segunda-feira, 15 de abril de 2024

*As anotações e a Caixa de Ferramentas




Por Sönke Ahrens

“Quando pensamos que estamos fazendo diversas tarefas, o que realmente fazemos é deslocar nossa atenção rapidamente entre duas (ou mais) coisas. E toda mudança drena nossa habilidade de mudar e atrasa o momento em que tentamos nos focar novamente. Tentar fazer múltiplas tarefas nos cansa e diminui nossa habilidade de lidar comais de uma tarefa.” [...]

“Você precisa externar as suas ideias, você precisa escrever. Richard Feynmann enfatiza isso tanto quanto Benjamin Franklin. Se escrevemos, é mais provável compreendermos o que lemos, lembrarmos do que aprendemos e que nossos pensamentos façam sentido. E se nosso estudo, pesquisa ou trabalho já exige a escrita, por que não usá-la para providenciar os recursos de nossas publicações futuras?” [...]

“Faça uma nota e acrescente-a a sua caixa de notas. Ela a aprimora. Toda ideia acrescenta algo ao que pode se tornar uma massa crítica que transforma uma simples coleção de ideias em um gerador de ideias.” [...]

“Se você não escreveu ao longo do caminho, o cérebro de fato é o único lugar ao qual se voltar. Em si mesmo, ele não é uma escolha tão boa: ele não é nem objetivo nem confiável – dois aspectos muito importantes na escrita acadêmica ou de não-ficção. A promoção do brainstorming como ponto de partida é ainda mais surpreendente porque não é a origem da maioria das ideias: as coisas que você deveria encontrar em sua cabeça através do brainstorming geralmente não tiveram sua origem ali. Ao contrário, elas vêm do exterior: através da leitura, das discussões com outros, através de todas as coisas que poderiam ter sido acompanhadas, e frequentemente melhoradas, pela escrita.” [...]

“Para escrever um bom artigo, você precisa apenas reescrever um bom rascunho; para escrever um bom rascunho, você precisa apenas transformar uma série de notas em um texto contínuo. E como uma série de notas é apenas o rearranjo de notas que você já tem na sua caixa de notas, tudo o que você realmente precisa fazer é ter uma caneta na sua mão quando você lê. Se você compreende o que lê e o traduz para o contexto diferente de seu próprio pensamento, materializado na caixa de notas, você poderá transformar as descobertas e pensamentos dos outros em algo que seja novo e seu.” [...]

“Se nós não tentarmos verificar nosso entendimento durante nossos estudos, gozaremos felizes o sentimento de nos tornarmos mais espertos e eruditos, quando na realidade permanecemos tão tolos quanto éramos.” [...]

“Todas as vezes em que lemos alguma coisa, tomamos uma decisão sobre o que vale a pena escrever e o que não vale. Toda vez que fazemos uma nota permanente, também tomamos uma decisão sobre os aspectos de um texto que vemos como relevantes para nosso pensamento a longo prazo e para o desenvolvimento de nossas ideias. Nós constantemente explicitamos como ideias e informação se conectam entre si e as transformamos em conexões literais entre nossas notas. Ao fazer isso, desenvolvemos aglomerados visíveis de ideias, que estão agora prontas para ser transformadas em manuscritos.” [...]

“O objetivo aqui é criar o hábito de pegar caneta e papel sempre que lemos alguma coisa, de escrever os aspectos mais importantes e interessantes. Se conseguirmos estabelecer uma rotina nesse primeiro passo, torna-se muito mais fácil desenvolver a urgência para transformar essas descobertas em notas permanentes e conectá-las a outras notas na caixa de notas.

A Caixa de Ferramentas

“Nós precisamos de quatro ferramentas:

- Algo com o que escrever e sobre o que escrever (caneta e papel bastam)

- Um sistemas de gerenciamento de referências (Zotero, Citavi ou a sua escolha)

- A caixa de notas (física ou digital)

- Um editor de texto (Word, LaTeX, Google Docs ou o que melhor funcione pra você).

Mais é desnecessário, menos é impossível.” [...]

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*Excertos extraídos do livro "Como Escrever Boas Notas", de Sönke Ahrens, editora Auster, 2023, SP


segunda-feira, 8 de abril de 2024

Funcionária grava sua própria demissão pelo celular e compartilha nas redes sociais



Nos Estados Unidos uma funcionária que foi demitida por vídeo-chamada gravou o momento quando estava sendo demitida da empresa pelos funcionários do RH e publicou nas suas redes sociais. Obviamente que após a publicação o vídeo viralizou pelo mundo todo causando reações das mais diversas. Muitas pessoas solidarizaram com a moça, mesmo porque gravar a própria demissão foi algo praticamente inédito gerando comentários positivos e negativos, sobretudo pelos profissionais que atuam com gestão de pessoas como este que vos escreve. Estamos diante de uma situação em que o privado se tornou público. Vejamos:

Eu sempre escrevi em alguns artigos sobre alguns riscos em que o trabalho em Home-Office está sujeito, principalmente para o empregador. No caso em questão um assunto que é por excelência confidencial e como tal é restrito ao setor de Recursos Humanos de uma empresa acabou se tornando público e revelado. Durante a demissão, a funcionária questiona os motivos de sua demissão e os profissionais do RH (a funcionária não mostrou os rostos deles, apenas ouvimos as vozes de um homem e uma mulher) alegam a baixa produtividade e que ela não atingiu as metas estabelecidas sem entrar em maiores detalhes.

É importante ressaltar que os funcionários do RH não sabiam que estavam sendo gravados e que essa conversa seria revelada ao mundo todo através das redes sociais da funcionária. Compreendo e entendo muito bem os efeitos colaterais e incômodos que uma demissão causam no funcionário, no entanto não podemos nunca transpor os limites da ética, da conduta profissional e do sigilo entre empresa e funcionário.

Em tempos em que a filosofia estoica nunca se fez tão presente, bem como, a postura de resiliência diante de adversidades no ambiente de trabalho, inclusive sempre com a possibilidade iminente de uma demissão, é lamentável a atitude de extrema fragilidade e até mesmo pueril dessa funcionária em não saber lidar com a situação. Atos ou atitudes têm consequências e provavelmente não será fácil para essa moça obter uma colocação no mercado de trabalho, haja vista a sua falta de habilidade em lidar com a sua demissão. A demissão é uma situação em que todos os funcionários estão sujeitos, ela pode ocorrer a qualquer momento e todo funcionário deve estar preparado para aceitá-la.

Vemos também uma falha muito grave e até diletante dessa empresa em não tomar as devidas precauções para proteção de dados e assuntos sigilosos que dizem respeito somente à empresa e aos funcionários. E de novo, o trabalho em Home-Office exige que a empresa disponha de ferramentas que garanta o sigilo de dados e informações. Isso deve estar bem claro em cláusulas contratuais que tratem da fidelidade, lealdade e sigilo entre as partes. Um contrato de trabalho bem feito evita preventivamente situações de vazamento de informações confidenciais e sigilosas e que interessam apenas ao empregado e ao empregador.

Caso a funcionária trabalhasse pelo sistema presencial certamente ela não poderia gravar a sua demissão, haja vista a proibição que funcionários portem celular nas dependências da empresa e seus departamentos justamente para a proteção de dados e informações sigilosas. Pelo menos, a maioria das empresas não permite o uso do celular durante a jornada de trabalho por motivos óbvios.

Por esse e outros motivos é que atualmente muitas empresas estão mudando a postura com relação ao trabalho remoto e apostando mais no retorno de seus funcionários para o sistema presencial. Algumas cortaram totalmente o trabalho remoto, outras optaram por um sistema híbrido no qual o funcionário trabalha em Home-Office apenas um ou dois dias na semana dependendo do cargo que ele ocupa na empresa.

No mais, quando o funcionário adentra nas dependências da empresa para cumprir a sua jornada de trabalho, ainda que seja terceirizado, ele deixou a sua vida privada do lado de fora. Tudo que se passa entre o funcionário, superiores ou subordinados não pode ser revelado e caso o funcionário quebre algum sigilo, ele será enquadrado no artigo 482, alíneas “a”, “b” ou “g”, da CLT, depende do grau de sigilo que foi vazado. Portanto, gravar a própria demissão ou qualquer outra situação nas dependências da empresa, o funcionário vai sair mal na fita, responder processo criminal e a sua carreira profissional poderá estar comprometida para sempre, sem retorno.


segunda-feira, 1 de abril de 2024

Leitura Recomendada: Como Escrever Boas Notas (Sönke Ahrens) - Apresentando o Método Zettelkasten



“Nada nos motiva mais do que a experiência de nos tornarmos melhores naquilo que  fazemos.” (Sönke Ahrens)

Diga adeus à página em branco, seja ela física ou digital, pois finalmente foi traduzido para nós o imperdível e obrigatório livro “Como Escrever Boas Notas”, do pesquisador nas áreas da Educação e Ciências Sociais, professor em Filosofia da Educação e coach, Sönke Ahrens. Ele nos apresenta nesta prestimosa obra de maneira muito prática o famoso método Zettelkasten que foi desenvolvido pelo sociólogo alemão Niklas Luhmann. Esse livro é destinado a todo profissional que precisa elaborar textos, artigos, papers, ensaios, peças jurídicas, etc., tais como, gerentes de projeto, gestores, publicitários, profissionais de comunicação, professores, advogados, pesquisadores, escritores, etc.

Niklas Luhmann (1927-1998) foi um sociólogo alemão que escreveu mais de 50 livros sobre diversos temas, entre os quais, política, arte, economia, religião e comunicação tendo como elemento central de sua obra A Teoria Geral dos Sistemas Sociais. Essa diversidade de assuntos fez com que Luhmann desenvolvesse um interessante e organizado sistema de anotações que denominou “Zettelkasten” (caixa de fichas ou cartões). Trata-se de um sistema composto por um arquivo contendo três tipos de fichas denominadas: Notas Rápidas, Notas Literárias ou de Literatura e Notas Permanentes. Grosso modo funciona assim:

Notas Rápidas: Captura de insights, informações relevantes, registro instantâneo de ideias que temos no decorrer do dia. Sempre deve ser anotada a data. Essas notas rápidas podem ser registradas também em um pequeno caderno de anotações ou mesmo gravadas no bloco de notas do celular.

Notas Literárias (Notas de Leitura): aqui anota-se as impressões pessoais que temos ao lermos livros, textos, artigos, etc., sempre com as nossas próprias palavras. As referências bibliográficas das fontes também serão anotadas nessa ficha.

Notas Permanentes: teremos aqui fichas por temas de acordo com os interesses de cada um, por exemplo: Filosofia Medieval, História da Ferrovia no Brasil, Botânica, Teoria das Cores, etc. Nessas fichas será anotado o que anotamos nas fichas de notas rápidas e nas fichas de notas literárias. Com o passar do tempo, as informações contidas em cada ficha de cada tema (cada tema poderá ter várias fichas na medida da necessidade) estabelecerão um link ou correlação com temas de outras fichas. Teremos um arquivo infinito de conhecimento que se correlacionam entre si.

Conforme Ahrens nos diz, o nosso cérebro não é uma opção confiável para o  armazenamento de informações, a mente depende de apoios externos, pois nossa memória é limitada e funciona a curto prazo. Portanto, ideias ou insights que temos no decorrer do dia devemos registrar e organizar essa “coleção de ideias” em fichas ou mesmo em algum aplicativo digital de gerenciamento. O propósito é transformar essa coleção de ideias e anotações organizadas em conhecimento permanente para sempre ser consultado na medida em que precisamos escrever artigos, textos, relatórios, ensaios, etc.

Vamos supor que um supervisor de RH receba do diretor da empresa um pedido para apresentar um projeto para a criação de um setor de RH na filial da empresa. Se ele tiver um arquivo organizado, seja físico (de fichas) ou digital, a elaboração desse projeto será muito mais prática e rápida, basta apenas organizar e redigir as anotações que foram meticulosamente registradas nesse arquivo ao longo do tempo. Levando em conta que esse profissional possui um arquivo com temas de RH que se correlacionam, tais como, legislação trabalhista, recrutamento e seleção, cargos e salários, treinamento e desenvolvimento, benefícios, segurança do trabalho, etc.

Ahrens nos alerta que não se trata de colecionar notas isoladas, pois isso não faria sentido, porém criar a longo prazo uma rede de informações que cria conexão com diversas temáticas, ou seja, formar um arquivo permanente de temas que se conectam e sempre revisá-lo. Isso possibilitará observar as diferenças entre conceitos aparentemente semelhantes ou correlação entre ideias aparentemente diferentes.

Há duas opções para a prática do método Zettelkasten: o uso da caixa de fichas para quem tem apreço pelo ato de escrever ou pelo sistema digital através de aplicativos específicos de anotações/conhecimento. Os mais usados são o Obsidian (eu uso este) e o Logseq, ambos gratuitos para uso pessoal. Há quem faça uso de ambos os sistemas, analógicos ou digitais ou seja, as anotações rápidas e as literárias em fichas e depois transcreve essas informações no Obsidian como fichas permanentes. Isso fica a critério de cada um.

Isto posto, o livro "Como Escrever Boas Notas" não é apenas um livro que ensina a registrar boas notas, mas um autêntico método e poderosa ferramenta de produtividade, um mapa de estudo que abre horizontes para o conhecimento nos mais variados temas que se conectam. Como diz o autor Sönke Ahrens, “todo esforço intelectual começa com uma nota”, então deixo aqui a minha pertinente observação: e você leitor, se esse artigo lhe interessou já tomou algumas notas sobre ele? Se não tomou notas, dentro de pouco tempo a sua memória vai apagá-lo e você não se lembrará mais dele, portanto, tenha sempre por perto caneta e papel e anote, registre, anote sempre.


segunda-feira, 25 de março de 2024

Revista Forbes elege “Don’t Stop Believin” (Não Pare de Acreditar), da banda Journey como a melhor canção de todos os tempos


Journey: Jonathan Cain, Neal Schon, Steve Perry, Steve Smith, Ross Valory

A famosa revista estadunidense Forbes com sede em Nova Iorque, em matéria publicada recentemente elegeu a canção “Don’t Stop Believin’”, da banda Journey como a melhor canção de todos os tempos. A letra da música fala sobre resiliência e a persistência de atingir os objetivos planejados. A Forbes é uma publicação que aborda temas variados tais como, economia, finanças, investimentos e marketing. No entanto também é famosa por publicar rankings sobre temas diversos ao redor do mundo.

A canção “Don’t Stop Believin’ foi escrita no ano de 1981 e faz parte do premiado álbum “Escape” que atingiu na época o primeiro lugar em vários países. O tecladista Jonathan Cain que fazia a sua estreia na banda foi quem trouxe o argumento da letra baseado na sua própria história pessoal. Baseado nesse argumento, o vocalista Steve Perry escreveu os versos da música e a melodia teve a autoria do próprio tecladista Jonathan Cain, do guitarrista Neal Schon, e do baterista Steve Smith.

A história pessoal de Jonathan diz respeito quando ele partiu do interior de sua cidade natal, Detroit para tentar a vida como músico em Los Angeles. A concorrência era pesada e sempre quando Jonathan pensava em desistir, ele ligava para o seu pai e este sempre lhe dizia: “Não pare de acreditar ou você acabou, cara!” Os versos da letra, Perry adaptou para contar a história de uma garota e um garoto que moram em cidades pequenas e pegam um trem para tentar a vida em algum lugar. Jonathan, comentando sobre a canção, disse certa vez em uma entrevista: “Sentimos que todo jovem tem um sonho e às vezes o lugar onde você cresce não é onde você está destinado a estar”.

“Dont Stop Believin” foi premiada até o momento com 18 certificados de platina, está entre as 500 melhores músicas de todos os tempos no ranking da revista Rolling Stone. Foi tema de diversos eventos esportivos, trilha sonora de diversos seriados e foi símbolo de resistência e resiliência na fase da pandemia para quem estava travando uma batalha contra a Covid.

Além da letra de "Don't Stop Believin' de forte conteúdo motivador, a revista Forbes também destacou a elaborada linha melódica, sobretudo a introdução memorável em razão do distinto riff introdutório do piano de Jonathan Cain na abertura da música. "Não pare de acreditar ou você acabou, cara". Ele não parou, acreditou e foi em frente e o resultado está aí, diante de nossos olhos. Portanto, não pare nunca, não desista, acredite em você!





segunda-feira, 18 de março de 2024

Falar bem ou ter boa oratória é “combustível” para alavancar carreira?


"Fazemos bem aquilo que gostamos de fazer" (Napoleon Hill)

Dia desses tive a oportunidade de assistir um curioso podcast no qual duas especialistas em oratória, uma delas advogada e a outra fonoaudióloga discorriam sobre as habilidades de se falar bem. Até aí nada contra, no entanto num certo momento da conversa o tema enveredou para o setor de gestão de pessoas e uma das especialistas disse peremptoriamente que "a oratória é o combustível para alavancar carreira". Oi? A outra especialista por sua vez disse que se o candidato tiver uma boa oratória na entrevista de seleção é possível saber tudo sobre as suas habilidades. Será? Bom, não é bem assim. Aos fatos:

É importante aqui que antes saibamos a diferença entre Oratória e Retórica. Oratória é a habilidade de comunicar com clareza, elegância e confiança todo o discurso que foi construído pela retórica; já a Retórica é a construção de bons argumentos levando-se em conta os aspectos racionais e emocionais. Parece simples, porém na prática nem todos conseguem obter feedback positivo na sua maneira de se comunicar por desconhecer as regras linguísticas de se comunicar bem.

Retornando às afirmações das duas especialistas, considero bastante preocupantes afirmações deste teor, isto porque na prática não é assim que acontece. Com toda certeza se uma das duas fosse profissional de RH não colocaria as questões da maneira como foram colocadas. Parece-me que nenhuma delas tem a mínima noção da dinâmica ou de como funciona um processo de recrutamento e seleção.

Quando uma vaga é aberta, o responsável pelo setor de recrutamento e seleção recebe um formulário enviado pelo gestor do departamento no qual a vaga foi aberta, cujo formulário constará todo o perfil que o candidato deverá possuir para o preenchimento da vaga. Já recebi formulário (e não foi uma vez só!) que constava que uma das caraterísticas que o candidato deveria ter é que fosse introvertido e falasse pouco. Se fosse muito comunicativo, nem pensar! Pois é.

Obviamente que a exigência para que o candidato tenha habilidade em se expressar e se comunicar muito bem está restrita a alguns cargos, sobretudo os de gerência, gestão ou supervisão cujas funções no dia a dia requerem que estejam em contato com clientes, fornecedores e subordinados. Podemos citar também assessores de comunicação, secretárias, relações públicas, vendedores e naturalmente outros cargos cuja expertise na função seja justamente a habilidade de se comunicar bem.

Outra questão que uma das duas levantou foi que qualquer pessoa pode desenvolver habilidades em oratória. Depende. Existe uma característica do ser humano denominada vocação e que não pode ser descartada. Pessoas com tendência a ter uma voz potente do tipo locutor de rádio ajuda bastante. As chances de essas pessoas escolherem uma profissão que requer uma boa comunicação são muito mais sólidas do que aquelas sem vocação que gastaram rios de dinheiro em cursos de oratória sendo que elas poderiam empregar esse investimento em outras habilidades inerentes às suas vocações. Napoleon Hill sempre discorria sobre a importância da vocação em seus livros.

É bom lembrar aqui que bons resultados apresentados na execução de tarefas, bem como, o fator produtividade são muito mais importantes do que ter uma boa oratória. E de novo, dependendo do cargo, entre um funcionário que se comunica bem, porém é ineficiente em apresentar resultados e outro que não se comunica bem, mas apresenta resultados satisfatórios as chances de promoção e decolar na carreira estão muito mais próximas deste último. Funcionários falastrões nem sempre são bem vistos, depende muito da cultura da empresa.

Além disso, pessoas que possuem um raciocínio lógico aguçado ou tiveram algum contato com a disciplina denominada Lógica (ramo da Filosofia que distingue o pensamento correto do incorreto através de premissas), conseguem muito mais êxito quando se comunicam do que aquelas que se prendem apenas em ser bons oradores.

Isto posto, de nada adianta ter voz de trovão ou de locutor de rádio, de nada adianta investir dinheiro em cursos oportunistas que prometem que a pessoa sairá do curso falando como o filósofo Marco Túlio Cícero ou Demóstenes. Isso não é combustível suficiente (suficiente!!) para alavancar carreira de maneira alguma. Dominar a língua pátria, falar o português correto, saber e dominar as regras da Lógica, do raciocínio correto, daí sim, mais de meio caminho estará percorrido para se fazer compreender e ser compreendido, seja na vida pessoal, social ou profissional. O resto é lábia para vender curso oportunista engana trouxas, é puro bla bla bla sofístico que não resiste a três minutos de raciocínio lógico, é combustível batizado que deixará a pessoa a pé e no meio do caminho.


sexta-feira, 8 de março de 2024

Dia Internacional da Mulher: Kilza Setti


Kilza Setti


Kilza Setti de Castro Lima (São Paulo, 1932) é musicista, compositora, professora doutora e antropóloga. Ela é a homenageada deste blog neste Dia Internacional da Mulher.

Aos oito anos de idade iniciou seus estudos de piano, graduou-se em 1953 pelo Conservatório Dramático e Musical de São Paulo.

Ela é fundadora da Associação Brasileira de Folclore e seu catálogo musical é composto por cerca de 70 peças musicais para variadas formações, sendo dez delas premiadas em concursos nacionais.

Uma dedicada pesquisadora da cultura caiçara, sobretudo da música originária dessa população (fandangos), seus estudos culminaram na sua famosa composição "Missa Caiçara".

Musicou dois poemas de Carlos Drummond de Andrade, "Ser" e "Memória".

Publicou o livro "Ubatuba nos Cantos das Praias (Estudo do Caiçara Paulista e de sua Produção Musical) da coleção Ensaios, editora Ática.

Em 2020, Kilza foi uma das mulheres cuja obra foi tema da série de concertos "Mulheres na Música" no SESC Vila Mariana, dentro do programa “Vozes Mulheres”, que visou abordar autoras que enfrentaram preconceitos políticos e de gênero e por terem lutado contra o peso da tradição e o estereótipo do papel da mulher na sociedade.


segunda-feira, 4 de março de 2024

Defeitos e qualidades e outras questões nas entrevistas de seleção



Qual candidato já não se sentiu desconfortável quando o entrevistador lhe pergunta sobre seus defeitos? Mesmo que o candidato esteja esperando pela pergunta e até foi treinado por um profissional habilitado, ainda que tenha lido manuais e manuais disponíveis nas redes sociais sobre como se sair bem nas entrevistas, esse momento sempre será desconfortável. Falar sobre as qualidades é tranquilo, mas sobre os defeitos? É ruim, muito ruim.  É justamente por isso que quando entrevisto candidatos seja lá para qual vaga esteja aberta eu jamais peço que me respondam sobre seus defeitos e qualidades. Vejamos:

Eu e também um grupo de colegas de profissão em gestão de pessoas, entendemos que os termos “defeitos" e “qualidades” são equivocados e não são termos adequados para nos referirmos às pessoas ou aos seres humanos. Defeitos e qualidades podemos encontrar única e exclusivamente em produtos diversos que adquirimos por aí, seja um chuveiro, um carro, uma peça do vestuário, eletrodomésticos diversos, enfim, em objetos inanimados, sem vida.

Quando tratamos com ou de pessoas podemos perguntar a elas sobre seus pontos fracos, negativos ou limitações. Denominamos pontos de inépcia e quanto aos pontos positivos denominamos pontos de proficiência ou mesmo habilidades. E não, não é mesmo que defeitos ou qualidades e isso faz muita diferença no momento de uma entrevista de seleção simplesmente porque o candidato vai sentir que está sendo tratado como pessoa e não como um objeto sem vida que vem acompanhado de nota fiscal, manual de instrução e garantia de 90 dias.

Além disso, sabemos que uma boa entrevista é aquela em que o entrevistador ouve mais e fala menos. O entrevistador faz algumas perguntas chaves e matadoras (naturalmente muito bem elaboradas com antecedência de acordo com o perfil da vaga aberta) nos momentos certos e deve deixar o candidato brilhar, ser a estrela e o protagonista daquele momento. Enquanto isso observa-se as modulações de voz do candidato, como ele se expressa o gestual, se tem um bom português, é seguro ou inseguro nas afirmações. Por exemplo, pedir a ele que discorra sobre o último livro que leu e em que essa leitura agregou em sua vida; sobre um filme que assistiu, e uma situação difícil que ele viveu e como ele saiu dela em seu último emprego.

Sobre as dinâmicas do grupo

Utilizamos dinâmicas de grupo dependendo muito do tipo de cargo que a pessoa vai ocupar. Para o setor de vendas ou promoção de eventos, por exemplo, a dinâmica de grupo revela-se uma ferramenta bastante poderosa para verificar a postura dos candidatos. Eu costumo utilizar jogos de tabuleiro de estratégia (são caros, investi um bom dinheiro neles, mas valeu a pena porque o resultado é sempre eficaz e muito divertido!) nas dinâmicas de grupo nos quais participam 6 a 10 candidatos. Eu costumo utilizar os seguintes jogos: Ticket To Ride, Power Grid, Container, Azul e Rory's Story Cubes.  A escolha de cada jogo vai depender da dinâmica dos cargos pretendidos.

Não é necessário que o candidato já tenha prévio conhecimento desses jogos, pelo contrário, ele tomará conhecimento das regras do jogo naquele momento e aqui é que entra o fator surpresa ao ser analisado como ele lidará com essas regras junto com os outros participantes do jogo. Detalhe importante: nem sempre o vencedor do jogo será o candidato aprovado na seleção e essa informação poderá ser passada aos candidatos ou não, fica a critério de quem está no comando da dinâmica de grupo.

A Redação surpresa!

Se o cargo a ser preenchido requer que o funcionário elabore relatórios técnicos, memorandos, cartas, etc., costumo antes da entrevista solicitar que o candidato faça uma redação (tema livre ou não, aqui vai depender também do cargo) de vinte a trinta linhas. A redação vai revelar se o candidato possui poder de síntese, pensamento organizado, senso crítico, esmero, caligrafia legível, etc.

Portanto, sempre é tempo de repensarmos todas as técnicas de entrevista de seleção que aprendemos, sendo a maioria delas de autores americanos. Há diversas maneiras e técnicas de detectarmos as limitações e habilidades dos candidatos, não há necessidade de perguntarmos sobre os “defeitos e qualidades”. Deixemos esses termos para os eletrodomésticos, afinal pessoas não são objetos inanimados e sem vida, somos todos seres humanos.


*As anotações e a Caixa de Ferramentas

Por Sönke Ahrens “Quando pensamos que estamos fazendo diversas tarefas, o que realmente fazemos é deslocar nossa atenção rapidamente entre d...