quarta-feira, 27 de agosto de 2014

A ética do trabalho e a geração que não quer trabalhar

Por Jeffrey Tucker*

A maioria das pessoas diz que um emprego serve para ganhar dinheiro. Sendo assim, se você não precisa de dinheiro, qual o objetivo de ter um emprego? Aparentemente, boa parte dos jovens ao redor do mundo pensa assim.  A geração "nem-nem", que não estuda nem trabalha, está crescendo a taxas assustadoras. [No Brasil, 20% dos jovens em idade ativa não estudam nem trabalham.

Nos EUA, que sempre foram o país de vanguarda em termos de empreendedorismo e que sempre prezaram por uma forte ética do trabalho, a situação vem degringolando ano após ano. Estatísticas compiladas pelo The Wall Street Journal quase me fizeram cair da cadeira.  No ano 2000, 33% dos adolescentes americanos entre 16 e 17 anos de idade tinham um emprego. Atualmente, este número é de 15%. São cifras estupefacientes. Porém, olhando em retrospecto, posso dizer que já vivenciei vários indícios casuais que confirmam estes números.

Recentemente, palestrei para um grupo de aproximadamente 200 adolescentes que ainda cursavam o ensino médio (não irei revelar o nome da escola nem sua localização).  Perguntei casualmente quantos deles já haviam trabalhado em um ambiente varejista, tendo de lidar diretamente com clientes e consumidores. Absolutamente nenhuma mão se levantou.  Espantado, fiz uma pergunta mais ampla: quantos deles já haviam tido um emprego remunerado?  De novo, nenhuma mão se levantou.

Conversando com os pais, descobri que eles adotaram uma nova postura: seus filhos não devem trabalhar.  Eles devem ficar apenas na escola.  Eles devem aproveitar seu tempo livre praticando esportes e estudando.  Trabalhar é para as classes mais baixas.  Qual a vantagem de trabalhar?  Colocar os filhos para trabalhar implica que os provedores da família não estão conseguindo sustentar seus rebentos.  No que mais, o que seus filhos fariam com o dinheiro que ganhariam?  Comprariam mais iPhones?

E há também o problema das legislações trabalhistas e das restrições legais criadas pelos governos ao redor do mundo.  A partir do momento em que há uma lei que impõe um salário mínimo, fica difícil para um adolescente de 16 anos — ainda sem experiência e com baixa produtividade — encontrar um emprego cujo salário mínimo valha sua produtividade.  Nenhum empregador irá escolher um adolescente em detrimento de um adulto experiente e disposto a efetuar o mesmo trabalho pelo mesmo valor salarial.  No que mais, está cada vez mais difícil demitir as pessoas que você contrata, o que faz com que poucos empregadores estejam dispostos a se arriscar contratando adolescentes.

Por outro lado, o mundo digital fornece hoje enormes oportunidades para contratos autônomos de trabalho.  No mundo digital, ninguém dá a mínima para tolices como idade e salário mínimo.  Idealmente, um garoto se aproveitaria dessa "brecha" e entraria com tudo no mercado de trabalho propiciado pela internet.  O problema é que, sem aquela formação de caráter que leva as pessoas a adquirirem habilidades para usá-las lucrativamente, isso não irá acontecer.  Tornar-se um autônomo na era digital é algo que só ocorre quando uma ética do trabalho já está enraizada na pessoa.

Tendo de lidar com todas essas barreiras legais, a cultura simplesmente se adaptou.  Dado que nenhum pai voluntariamente toma uma decisão com o intuito de prejudicar seus filhos, os pais simplesmente decidiram que trabalhar é algo apenas para os filhos dos outros, e não para os seus.

Consequentemente, cada vez menos pessoas estão familiarizadas com a ética do trabalho.  Os jovens de hoje apenas se sentam em bancos de escolas e universidades, na maioria das vezes fazendo mais de um curso, e ficam nesta rotina até completarem 25 anos de idade, quando finalmente irão se apresentar, com um diploma, a empregadores que supostamente irão dar-lhes dinheiro como recompensa por terem permanecido tanto tempo na escola e na universidade.

E quando tal empregador não surge, a frustração pelo tempo perdido toma conta da pessoa, que tende a desistir da vida.

Por isso, falemos um pouco sobre o que poderia ter sido aprendido caso os jovens procurassem um emprego desde cedo, mas que não foi aprendido justamente porque não houve esta busca pelo emprego.

Como dito, há a tal "ética do trabalho", um termo que sempre foi utilizado ao longo dos tempos.  Mas o que isso realmente significa? Não dá para resumir em poucas palavras; você tem de trabalhar para adquirir esta ética.  Como vários titãs da segunda metade do século XIX tentaram nos alertar, nenhum indivíduo nasce querendo trabalhar.  Sendo assim, como então você adquire esta ética e passa a prosperar por meio dela?

Ter uma "ética do trabalho" significa estar disposto a passar por vários tipos de desconforto com o objetivo de realizar um trabalho com excelência.  Isso é algo que não surge naturalmente.  Tem de ser incentivado.  Nesse quesito, os pais são os principais modelos de comportamento a serem observados. A tendência "natural" do ser humano é deixar de fazer aquilo que se está fazendo quando tal ocupação começa a se mostrar desconfortável, ou quando ela passa a exigir mais do que você imaginava. O problema é que tal postura não leva ninguém a lugar nenhum.  Com efeito, se essa for a sua postura, você irá se acomodar cada vez mais, até chegar ao ponto em que se tornará um preguiçoso que só quer saber de ficar deitado no sofá — algo que descreve perfeitamente a atual geração.

Lembro-me muito bem de quando eu tinha 10 anos e estava trabalhando no telhado de uma casa com meu saudoso tio.  Era o auge de um verão escaldante.  Nós dois tínhamos de nos equilibrar sobre um telhado negro e acentuadamente inclinado, martelando pregos.  Após aproximadamente 30 minutos, pensei que iria morrer.  Ainda assim, continuamos trabalhando lá em cima por várias horas seguidas.  Finalmente, meu tio disse que era hora de fazermos um intervalo.  Rapidamente, corri para a mangueira do jardim, esguichei vários litros de água na minha cara e bebi uns dois litros.  Já meu tio simplesmente tomou uma xícara de café.  Aquilo foi inspirador.

Outra memória de minha infância foi quando meu irmão conseguiu seu primeiro emprego na construção civil. O trabalho era pesado. Ao final do primeiro dia, ele voltou para casa parecendo um zumbi.  Conversávamos com ele, mas ele não conseguia articular nenhuma palavra.  Ele foi para o seu quarto escorando-se nas paredes e capotou na cama.  Durante semanas, esta foi a sua rotina.  E então, com o tempo, ele foi entendendo o funcionamento da coisa até finalmente pegar o jeito.  E aí ele se tornou uma máquina. Aquele verão lhe forneceu a ética do trabalho que ele carregaria consigo para sempre.

Outras lembranças de meus primeiros empregos incluem: perfurar poços artesianos sob sol escaldante; esfregar os resíduos de mel das mesas de um restaurante em que trabalhei como auxiliar de garçom; recolher pratos de papel de 500 mesas após o almoço distribuído por uma empresa que fornece comidas e bebidas, a qual havia me contratado para tarefas gerais; administrar os ânimos de um enxame de pessoas que brigavam entre si para conseguir comprar as calças de $10 que estavam em promoção e que haviam virado moda em uma rede de varejo; sentir o terror de que o piano que eu tinha de carregar escada acima iria cair em cima de mim e me esmagar; recolher pequenos alfinetes no chão de provadores em uma loja de departamentos; aprender a manusear a enceradeira em uma loja de porcelanas e, mais tarde, ter pesadelos em que eu derrubava uma prateleira inteira de cristais finos.

Em qualquer emprego — e especialmente naqueles que pagam pouco —, você rapidamente descobre que trabalhar é algo que fatiga, tanto fisicamente quanto mentalmente.  Você tem de se concentrar intensamente no que faz, e por muito mais tempo do que você realmente quer.  Você tem de fazer coisas das quais não gosta.  Você irá encontrar várias desculpas para se desconcentrar e se distrair, mas não poderá fazê-lo porque há tarefas que têm de ser efetuadas.  E, se você não fizer a sua parte corretamente, todos os seus colegas que dependem da sua parte irão descobrir que a parte deles ficou mais difícil por sua causa, e por isso todos irão odiar você.

Se você limpa banheiros de uma loja ou de um restaurante, você tem de se certificar de que sempre haverá papel higiênico ali, caso contrário os clientes ficarão furiosos.  Se você frita peixes, você tem de saber como administrar a quantidade de gordura, caso contrário você irá destruir o empreendimento.  Se você está instalando um cercado, você tem de saber cavar buracos profundos, caso contrário ela cairá em seis meses.  Se você lava carros, terá de aprender a fazer um bom serviço utilizando a quantidade mínima de água, sabão e cera, caso contrário você perderá dinheiro.  Você só aprende a evitar essas catástrofes de uma única maneira: completando sua tarefa.

Ninguém já nasce sabendo que há uma relação direta entre aquilo que fazemos e suas consequências.  Muito pelo contrário: a própria definição de imaturidade é a incapacidade de assumir responsabilidades (como nossos pais sempre dizem).  E como aprendemos essa relação entre nossas ações e seus resultados? Não há maneira melhor do que pelo mercado trabalho. Trabalhamos, vemos o resultado, e somos pagos por isso.  É algo direto.  É algo bonito.  É algo que faz nosso cérebro enaltecer a relação entre ações e resultados.

A escola nem sempre nos ensina isso.  Aliás, a "ação" na escola é algo bem limitado.  Tudo se resume a estudar, o que, na maioria das vezes, significa apenas imitar tudo o que a autoridade designada ordena.  No mundo real do trabalho, você tem de ser criativo.  Você tem de saber improvisar.  Você exercita um controle volitivo sobre o seu corpo, sobre o que ele faz, e então vê os resultados.  E os resultados não são abstrações como notas em um boletim escolar, mas sim algo muito concreto: salário na forma de dinheiro, o qual será utilizado para adquirir coisas que você quer.  E essa recompensa é oriunda do fato de que você se entregou por completo a uma atividade produtiva.

O trabalho é como uma universidade — uma verdadeira universidade que molda o caráter de uma pessoa e faz dela alguém melhor do que seria sem esta ocupação.

O que você leva de um trabalho depende daquilo que você traz a esse trabalho, e o que você traz tem de ser mais valioso para seu empregador do que aquilo que você irá levar dele.  Lembro-me de um vadio com quem trabalhei décadas atrás resmungando:"Sem chance que eu vou ajeitar gravatas por um salário mínimo!".  Uma perspectiva muito interessante.  Ele queria mais dinheiro para fazer mais trabalho.  Mas não é assim que funciona. A relação é inversa: você tem de trabalhar mais para ganhar mais dinheiro. Se o seu intuito é prosperar, você tem de fornecer um valor maior do que aquele que você pode extrair.

O trabalho (e aqui eu devo especificar que me refiro exclusivamente ao trabalho no setor privado) é a melhor maneira de aprender esta lição imensamente valiosa, e carregá-la consigo por toda a sua vida.  Esta certamente é uma característica distintiva daquilo que chamamos de ética do trabalho.

Uma parte disso significa adquirir um senso de necessidade de servir ao próximo com o objetivo de ganhar algo em troca de seu serviço.  Essa é a essência intrínseca de um emprego, seja ele fritar batatas, catar papel ou lavar carros.  Você está fazendo algo para outra pessoa.  Se você fizer muito disso e adquirir excelência, você fará com que essa necessidade de servir ao próximo passe a fazer parte de sua mentalidade. 

E aí você pode dizer: ah, todo esse mundo comercial é uma farsa.  Aquelas pessoas que fornecem seus serviços apenas fingem que gostam de seus clientes, pois o que elas realmente querem é apenas o seu dinheiro.  E o cliente, por sua vez, também apenas finge que está satisfeito com o provedor, mas na realidade está desgostoso por ter de pagar pelo serviço. 

De fato, é possível pensar assim, mas considere o seguinte: se nos comportarmos de uma determinada maneira durante vários anos, com o tempo chegaremos a um estado em que nossa mente já estará condicionada a seguir este padrão. Consequentemente, tornamo-nos sinceros em nossas atitudes. Começamos a valorizar os outros por aquilo que eles fazem e por aquilo que nos fornecem.  Aprendemos a ter um bom um relacionamento com as pessoas, a valorizar as diferenças entre as pessoas, a observar qualidades únicas em cada pessoa, e a distinguir o mérito de cada uma delas.

Não há arranjo mais ético e mais justo do que esse.  Este é o arranjo ideal.  É o arranjo no qual as reais virtudes são aprendidas e apreciadas.

Alguém certa vez disse que uma sociedade capitalista é uma sociedade amigável.  Nada mais verdadeiro, dado que a essência do capitalismo é a cooperação voluntária, os serviços mútuos, e as transações comerciais que têm por objetivo a melhora de seus participantes.  Fazer parte disso é algo que nos transforma e nos remodela.  Faz de nós pessoas melhores.

Compare isso à existência entediada e despreocupada do indolente deitado em um sofá ou de um burocrata do serviço público que passa seus dias atrás de uma mesa.  É o setor privado e o seu espírito comercial que nos fornece aquilo de que mais necessitamos: a constante busca pelo auto-aprimoramento.

O que imediatamente nos impressiona em todos os empregos no setor comercial é como eles são necessariamente voltados para o futuro.  Leva algum tempo para se acostumar a isso.  Se você teve um dia ruim, sem muitos clientes e vendas, sempre haverá o dia seguinte.  Se você teve um dia ótimo, sempre haverá o próximo dia, e jamais é possível saber quão bom ele será.

E assim você aprende a viver em um mundo no qual "o que passou, passou" e o futuro sempre será incerto, mas possivelmente melhor.  No comércio, não há rancores e ressentimentos, pois o aparente inimigo de hoje pode vir a ser o seu cliente de amanhã, ou mesmo o seu colega de trabalho ou sócio.  O passado é meramente um conjunto de dados efêmeros; é no futuro que a ação e o entusiasmo estão.  E, dessa maneira, um emprego no setor comercial é completamente diferente do mundo da preguiça e da burocracia, no qual nem o passado e nem o futuro importam.  E é também muito diferente do mundo escolar e universitário, onde o passado é armazenado e jamais desaparece.

Com um emprego no comércio, ou mesmo empreendendo em qualquer outra área, você está continuamente ativo.  Você tem de estar antenado a todas as mudanças que ocorrem nos interesses e nos valores sociais.  Você está atuando em algo que passa a incorporar suas próprias características, algo que dá a você o direito de se gabar de sua competência, algo que conecta você aos outros.  Você se torna determinado, habilidoso, capacitado, útil e experiente.  Você passa a ter histórias para contar e dicas para dar.  Você se liberta das estruturas autoritárias que você herdou desde o nascimento, e passa a adotar as novas que você próprio escolheu.

Agora, tendo em mente tudo isso, faça a si próprio a seguinte pergunta: adolescentes realmente estarão em melhor situação caso não trabalhem?  Um recente estudo demonstrou que, no geral, a aposentadoria "leva a um aumento de 5 a 16% nas dificuldades associadas à mobilidade e a atividades do dia a dia, a aumento de 5 a 6% nas enfermidades, e a um declínio de 6 a 9% na saúde mental, tudo isso ao longo de um período de apenas 6 anos após a aposentadoria".  E isso após toda uma vida de trabalho.  Os efeitos sobre a mente são muito piores para o jovem que nunca desenvolveu os hábitos mentais fornecidos apenas pelo trabalho.

Será que realmente devemos negar tudo isso a toda uma geração e em seguida esperar que essas pessoas simplesmente adentrem o "mundo real", com 25 anos de idade, e já plenamente formadas e capacitadas?  Elas não estarão formadas.  Elas não estarão capacitadas.  Elas serão menos úteis, menos habilidosas, menos produtivas, menos moldadas em seu caráter, e menos preparadas para ser livres e responsáveis. 

Lamento, mas procrastinar e fingir que se está estudando não são substitutos para os reais desafios da vida.

Artigo publicado no site do Instituto Misses Brasil

*Jeffrey Tucker é o presidente da  Laissez-Faire Books e consultor editorial do mises.org.  É também autor dos livros It's a Jetsons World: Private Miracles and Public Crimes e Bourbon for Breakfast: Living Outside the Statist Quo

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Líder corajoso ou irresponsável?

Por Joseph L. Badaracco, Jr.*

“Há alguns anos, pouco antes de começar uma aula, achei que tinha cometido um grande erro. Seria uma discussão sobre liderança com um grupo de executivos da diretoria de minha escola, Eram pessoas muito ocupadas, e fiquei imaginando quantos teriam lido o trabalho de casa. A aula era num sábado de manhã cedo, depois de um jantar na véspera, e eu também não sabia se todos estariam despertos. E, pior de tudo, eu havia pedido a esses executivos de mente prática e lógica para lerem um conto pouco conhecido: “The Secret Sharer” (O cúmplice secreto) de Joseph Conrad. Semanas antes, a experiência me parecera interessante, mas agora eu desejava ter escolhido um desses casos tradicionais analisados nas escolas de negócios.

O único aspecto positivo da situação era o conto em si. Ele descreve um homem na sua primeira viagem como capitão de navio. Uma noite, fazendo a ronda, ele deixa que um estranho misterioso suba a bordo. O sujeito diz que acabou de escapar da prisão de outro navio, onde foi injustamente acusado de assassinato. O capitão acredita, esconde o homem durante vários dias, e depois leva o navio para perto de uma costa perigosa para que o estranho possa nadar até a praia.

Iniciei a aula com alguns comentários de introdução e em seguida perguntei: “O que vocês acharam de interessante ou polêmico nessa história?” Meu objetivo era simplesmente fazer algumas pessoas falarem. Várias mãos ergueram-se na mesma hora. Um executivo chamou o capitão de idiota por ter aceitado um estranho no navio, em primeiro lugar. Outro, ex-oficial da marinha, disse que teria se recusado a navegar sob a direção de alguém tão irresponsável.

Agora tinha uma nova preocupação – a de que o debate tornasse por demais unilateral -, mas recorri a um grande executivo, um CEO muito respeitado. Ele olhou em volta e disse: “Aposto que a maioria de vocês já fez coisas semelhantes, e não estariam aqui se não tivessem feito.” Os melhores jovens, ele acrescentou, arriscam-se, testam-se e aprendem com o que acontece. Quando ele terminou, várias mãos se levantaram. Ansiosas para comentar ou discordar.

Passei o resto da aula escutando, em vez de liderar, uma discussão. A conversa tratou de muitas questões importantes. O capitão estava pronto para assumir suas responsabilidades? O que suas atitudes revelam sobre o seu caráter? O grupo estava interessadíssimo, argumentando sobre o capitão e falando de suas próprias experiências. De fato, mais ou menos um ano depois, um colega meu encontrou alguém que tinha participado do debate, e que ainda queria continuar falando sobre o capitão.

O que aconteceu na sala de aula naquela manhã? Por que a discussão despertou tanto entusiasmo? Um feliz acaso sem dúvida ajudou, como em qualquer aula boa. Uma artimanha também favoreceu o debate: os executivos tinha sido induzidos a tratar uma obra de ficção como o estudo de um caso típico de uma escola de negócios. Esse truque foi importante porque muita gente associa literatura com discursos acadêmicos obscuros sobre imagens freudianas ou desconstrução: análises de casos, por outro lado, são ferramentas familiares no ensino da arte de administração.

Mas alguma coisa, além disso, estava acontecendo. O caso do capitão encontrou eco entre os executivos. Nenhum deles havia comandado um navio mercante no Sudeste da Ásia, mas a história que Conrad inventou sobre o que é assumir responsabilidade soava verdadeira. E também levantou várias dúvidas sobre liderança que os executivos reconhecem como críticas, e o fato de estarem inseridas na narrativa os fez pensar nessas questões em termos pessoais. Eles iam e vinham, com facilidade e naturalmente, dos desafios que o capitão tinha de enfrentar para aqueles que encontravam em suas próprias carreiras. A história de Conrad funcionou como um excelente espelho: olhando de perto nosso capitão, os executivos refletiam sobre si mesmos como líderes."


*Texto extraído do livro "Uma Questão de Caráter: como a literatura ajuda a identificar a essência da liderança", de Joseph L. Badaracco, Jr, editora Rocco.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Leitura Recomendada: Uma Questão de Caráter: Como a literatura ajuda a identificar a essência da liderança.

Que lições de liderança Joseph Conrad, Scott Fitzgerald, Arthur Miller, Sófocles e muitos outros escritores consagrados podem nos ensinar? Essa resposta podemos encontrar neste magnífico livro de Joseph L. Badaracco, Jr., professor de ética nos negócios e estratégias de administração para executivos.

Trata-se de um livro de administração bastante sui-generis e autêntico que aborda a liderança tomando como modelo os erros e acertos de figuras carismáticas e grandes líderes da literatura mundial. Podemos, por exemplo, aprender valiosas lições de liderança com Creonte e Antígona.

Em cada capítulo do livro, o professor Badaracco comenta com muita perspicácia os principais trechos extraídos dos contos e das histórias indicadas e parte do pressuposto que todo líder deve ter como princípio um bom código de conduta moral.

E justamente a partir desse princípio, questões incômodas são levantadas pelo autor para profunda reflexão, tais como: O que é um bom código moral para um líder? O meu código moral é flexível? O que meus fracassos me dizem? Como lidar com surpresas éticas? Meus modelos são inquietantes? Consigo resistir à maré de sucessos? Vejamos um trecho:

“O que descobrimos às vezes é que um código moral, enraizado em valores pessoais e da comunidade é menos saudável do que parece”.O professor levanta uma possibilidade que nem todos os líderes querem enfrentar: “a perspectiva de que os próprios traços e os valores que os fazem bem sucedidos também os deixam vulneráveis e causam graves erros”.

Essa bela e inquietante reflexão foi baseada no belíssimo romance “O Mundo se Despedaça”, do escritor africano Chinua Achebe, publicado no Brasil pela editora Companhia das Letras. O romance conta a intrigante história do valente líder tribal Okonkwo da aldeia nigeriana de Umuofia. É praticamente um manual de liderança.

"Uma Questão de Caráter: como a literatura ajuda a identificar a essência da liderança", editado pela editora Rocco, é um livro que acerta no alvo. O professor Badaracco não dá lições de liderança, mas nos aponta aonde buscá-las e estudá-las minuciosamente para depois aplicá-las no ambiente corporativo. Os modelos e manuais de liderança não encontraremos nos livro de auto-ajuda, mas na literatura universal, a maior fonte de saber e conhecimento.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Leitura do Acordo Coletivo é obrigatória para empregado e empregador

O Acordo Coletivo de cada categoria profissional tem força de lei, está acima da Consolidação das Leis do Trabalho-CLT e compreende o principal documento que normatiza as relações de trabalho entre empregado e empregador. Fato curioso é que, a cada 10 funcionários, apenas um tem o hábito de fazer uma leitura do acordo coletivo de sua categoria profissional. Triste realidade é que alguns funcionários nem sabem a qual sindicato pertencem.

Conforme as consultas que recebo diariamente vindas de funcionários, a maioria delas aponta para a falta total de conhecimento de seus direitos e deveres homologados no acordo coletivo da categoria profissional. Uma rápida leitura do acordo bastaria para que dúvidas simples fossem esclarecidas facilmente.

O acordo coletivo é a celebração anual ou bienal que ocorre entre o sindicato patronal e o sindicato de empregados de uma categoria profissional. O acordo contém as reivindicações das partes e que serão homologadas e servirão de normas até a duração de sua vigência, quando então os sindicatos se reunirão novamente para um novo acordo coletivo.

Direitos básicos como o piso normativo da categoria, banco de horas, cesta básica, condições de horas-extras, adicionais, comissões, bonificações, vale alimentação, descontos permitidos, convênios, etc., estão elencados em cláusulas e que devem ser cumpridas rigorosamente pelo empregador.

O empregado ao ser admitido, não deve ficar com receio em procurar o sindicato e solicitar uma cópia do acordo coletivo vigente para se inteirar de seus direitos e deveres. Atualmente, muitos sindicatos disponibilizam em seus sites o acordo online para ser consultado ou baixado em formato Portable Document File – PDF.

Pelo lado do empregador, já ocorreu de eu visitar empresas em que não havia uma cópia atual do acordo coletivo no departamento de pessoal. E mais, já conheci responsáveis por este setor que apesar de terem o acordo coletivo à disposição (leia-se no fundo da gaveta), desconheciam cláusulas importantíssimas pela falta do hábito de leitura. Casos como esse, a empresa corre o risco iminente de uma autuação do Ministério do Trabalho e Emprego.

Empresas de porte pequeno que não dispõem de departamento de RH e entregam o setor trabalhista para escritórios de contabilidade, também costumam serem autuadas por descumprimento das cláusulas do acordo coletivo. Os escritórios contábeis cuidam de várias empresas e normalmente excutam apenas a parte operacional da folha de pagamento e rotinas de pessoal deixando de lado a legislação trabalhista em questão.

Portanto, é essencial e praticamente obrigatório que empregado e empregador, este representado pelos responsáveis do setor de Recursos Humanos, leiam, estudem e tenham na ponta da língua as cláusulas do acordo coletivo. O empregado estará ciente de todos os seus direitos e deveres. Pelo lado do empregador, previne-se reclamações trabalhistas e autuações desnecessárias lavradas pelo Ministério do Trabalho e Emprego e que poderiam ser evitadas.

Falar bem ou ter boa oratória é “combustível” para alavancar carreira?

"Fazemos bem aquilo que gostamos de fazer" (Napoleon Hill) Dia desses tive a oportunidade de assistir um curioso podcast no qual d...