segunda-feira, 18 de março de 2024

Falar bem ou ter boa oratória é “combustível” para alavancar carreira?


"Fazemos bem aquilo que gostamos de fazer" (Napoleon Hill)

Dia desses tive a oportunidade de assistir um curioso podcast no qual duas especialistas em oratória, uma delas advogada e a outra fonoaudióloga discorriam sobre as habilidades de se falar bem. Até aí nada contra, no entanto num certo momento da conversa o tema enveredou para o setor de gestão de pessoas e uma das especialistas disse peremptoriamente que "a oratória é o combustível para alavancar carreira". Oi? A outra especialista por sua vez disse que se o candidato tiver uma boa oratória na entrevista de seleção é possível saber tudo sobre as suas habilidades. Será? Bom, não é bem assim. Aos fatos:

É importante aqui que antes saibamos a diferença entre Oratória e Retórica. Oratória é a habilidade de comunicar com clareza, elegância e confiança todo o discurso que foi construído pela retórica; já a Retórica é a construção de bons argumentos levando-se em conta os aspectos racionais e emocionais. Parece simples, porém na prática nem todos conseguem obter feedback positivo na sua maneira de se comunicar por desconhecer as regras linguísticas de se comunicar bem.

Retornando às afirmações das duas especialistas, considero bastante preocupantes afirmações deste teor, isto porque na prática não é assim que acontece. Com toda certeza se uma das duas fosse profissional de RH não colocaria as questões da maneira como foram colocadas. Parece-me que nenhuma delas tem a mínima noção da dinâmica ou de como funciona um processo de recrutamento e seleção.

Quando uma vaga é aberta, o responsável pelo setor de recrutamento e seleção recebe um formulário enviado pelo gestor do departamento no qual a vaga foi aberta, cujo formulário constará todo o perfil que o candidato deverá possuir para o preenchimento da vaga. Já recebi formulário (e não foi uma vez só!) que constava que uma das caraterísticas que o candidato deveria ter é que fosse introvertido e falasse pouco. Se fosse muito comunicativo, nem pensar! Pois é.

Obviamente que a exigência para que o candidato tenha habilidade em se expressar e se comunicar muito bem está restrita a alguns cargos, sobretudo os de gerência, gestão ou supervisão cujas funções no dia a dia requerem que estejam em contato com clientes, fornecedores e subordinados. Podemos citar também assessores de comunicação, secretárias, relações públicas, vendedores e naturalmente outros cargos cuja expertise na função seja justamente a habilidade de se comunicar bem.

Outra questão que uma das duas levantou foi que qualquer pessoa pode desenvolver habilidades em oratória. Depende. Existe uma característica do ser humano denominada vocação e que não pode ser descartada. Pessoas com tendência a ter uma voz potente do tipo locutor de rádio ajuda bastante. As chances de essas pessoas escolherem uma profissão que requer uma boa comunicação são muito mais sólidas do que aquelas sem vocação que gastaram rios de dinheiro em cursos de oratória sendo que elas poderiam empregar esse investimento em outras habilidades inerentes às suas vocações. Napoleon Hill sempre discorria sobre a importância da vocação em seus livros.

É bom lembrar aqui que bons resultados apresentados na execução de tarefas, bem como, o fator produtividade são muito mais importantes do que ter uma boa oratória. E de novo, dependendo do cargo, entre um funcionário que se comunica bem, porém é ineficiente em apresentar resultados e outro que não se comunica bem, mas apresenta resultados satisfatórios as chances de promoção e decolar na carreira estão muito mais próximas deste último. Funcionários falastrões nem sempre são bem vistos, depende muito da cultura da empresa.

Além disso, pessoas que possuem um raciocínio lógico aguçado ou tiveram algum contato com a disciplina denominada Lógica (ramo da Filosofia que distingue o pensamento correto do incorreto através de premissas), conseguem muito mais êxito quando se comunicam do que aquelas que se prendem apenas em ser bons oradores.

Isto posto, de nada adianta ter voz de trovão ou de locutor de rádio, de nada adianta investir dinheiro em cursos oportunistas que prometem que a pessoa sairá do curso falando como o filósofo Marco Túlio Cícero ou Demóstenes. Isso não é combustível suficiente (suficiente!!) para alavancar carreira de maneira alguma. Dominar a língua pátria, falar o português correto, saber e dominar as regras da Lógica, do raciocínio correto, daí sim, mais de meio caminho estará percorrido para se fazer compreender e ser compreendido, seja na vida pessoal, social ou profissional. O resto é lábia para vender curso oportunista engana trouxas, é puro bla bla bla sofístico que não resiste a três minutos de raciocínio lógico, é combustível batizado que deixará a pessoa a pé e no meio do caminho.


sexta-feira, 8 de março de 2024

Dia Internacional da Mulher: Kilza Setti


Kilza Setti


Kilza Setti de Castro Lima (São Paulo, 1932) é musicista, compositora, professora doutora e antropóloga. Ela é a homenageada deste blog neste Dia Internacional da Mulher.

Aos oito anos de idade iniciou seus estudos de piano, graduou-se em 1953 pelo Conservatório Dramático e Musical de São Paulo.

Ela é fundadora da Associação Brasileira de Folclore e seu catálogo musical é composto por cerca de 70 peças musicais para variadas formações, sendo dez delas premiadas em concursos nacionais.

Uma dedicada pesquisadora da cultura caiçara, sobretudo da música originária dessa população (fandangos), seus estudos culminaram na sua famosa composição "Missa Caiçara".

Musicou dois poemas de Carlos Drummond de Andrade, "Ser" e "Memória".

Publicou o livro "Ubatuba nos Cantos das Praias (Estudo do Caiçara Paulista e de sua Produção Musical) da coleção Ensaios, editora Ática.

Em 2020, Kilza foi uma das mulheres cuja obra foi tema da série de concertos "Mulheres na Música" no SESC Vila Mariana, dentro do programa “Vozes Mulheres”, que visou abordar autoras que enfrentaram preconceitos políticos e de gênero e por terem lutado contra o peso da tradição e o estereótipo do papel da mulher na sociedade.


segunda-feira, 4 de março de 2024

Defeitos e qualidades e outras questões nas entrevistas de seleção



Qual candidato já não se sentiu desconfortável quando o entrevistador lhe pergunta sobre seus defeitos? Mesmo que o candidato esteja esperando pela pergunta e até foi treinado por um profissional habilitado, ainda que tenha lido manuais e manuais disponíveis nas redes sociais sobre como se sair bem nas entrevistas, esse momento sempre será desconfortável. Falar sobre as qualidades é tranquilo, mas sobre os defeitos? É ruim, muito ruim.  É justamente por isso que quando entrevisto candidatos seja lá para qual vaga esteja aberta eu jamais peço que me respondam sobre seus defeitos e qualidades. Vejamos:

Eu e também um grupo de colegas de profissão em gestão de pessoas, entendemos que os termos “defeitos" e “qualidades” são equivocados e não são termos adequados para nos referirmos às pessoas ou aos seres humanos. Defeitos e qualidades podemos encontrar única e exclusivamente em produtos diversos que adquirimos por aí, seja um chuveiro, um carro, uma peça do vestuário, eletrodomésticos diversos, enfim, em objetos inanimados, sem vida.

Quando tratamos com ou de pessoas podemos perguntar a elas sobre seus pontos fracos, negativos ou limitações. Denominamos pontos de inépcia e quanto aos pontos positivos denominamos pontos de proficiência ou mesmo habilidades. E não, não é mesmo que defeitos ou qualidades e isso faz muita diferença no momento de uma entrevista de seleção simplesmente porque o candidato vai sentir que está sendo tratado como pessoa e não como um objeto sem vida que vem acompanhado de nota fiscal, manual de instrução e garantia de 90 dias.

Além disso, sabemos que uma boa entrevista é aquela em que o entrevistador ouve mais e fala menos. O entrevistador faz algumas perguntas chaves e matadoras (naturalmente muito bem elaboradas com antecedência de acordo com o perfil da vaga aberta) nos momentos certos e deve deixar o candidato brilhar, ser a estrela e o protagonista daquele momento. Enquanto isso observa-se as modulações de voz do candidato, como ele se expressa o gestual, se tem um bom português, é seguro ou inseguro nas afirmações. Por exemplo, pedir a ele que discorra sobre o último livro que leu e em que essa leitura agregou em sua vida; sobre um filme que assistiu, e uma situação difícil que ele viveu e como ele saiu dela em seu último emprego.

Sobre as dinâmicas do grupo

Utilizamos dinâmicas de grupo dependendo muito do tipo de cargo que a pessoa vai ocupar. Para o setor de vendas ou promoção de eventos, por exemplo, a dinâmica de grupo revela-se uma ferramenta bastante poderosa para verificar a postura dos candidatos. Eu costumo utilizar jogos de tabuleiro de estratégia (são caros, investi um bom dinheiro neles, mas valeu a pena porque o resultado é sempre eficaz e muito divertido!) nas dinâmicas de grupo nos quais participam 6 a 10 candidatos. Eu costumo utilizar os seguintes jogos: Ticket To Ride, Power Grid, Container, Azul e Rory's Story Cubes.  A escolha de cada jogo vai depender da dinâmica dos cargos pretendidos.

Não é necessário que o candidato já tenha prévio conhecimento desses jogos, pelo contrário, ele tomará conhecimento das regras do jogo naquele momento e aqui é que entra o fator surpresa ao ser analisado como ele lidará com essas regras junto com os outros participantes do jogo. Detalhe importante: nem sempre o vencedor do jogo será o candidato aprovado na seleção e essa informação poderá ser passada aos candidatos ou não, fica a critério de quem está no comando da dinâmica de grupo.

A Redação surpresa!

Se o cargo a ser preenchido requer que o funcionário elabore relatórios técnicos, memorandos, cartas, etc., costumo antes da entrevista solicitar que o candidato faça uma redação (tema livre ou não, aqui vai depender também do cargo) de vinte a trinta linhas. A redação vai revelar se o candidato possui poder de síntese, pensamento organizado, senso crítico, esmero, caligrafia legível, etc.

Portanto, sempre é tempo de repensarmos todas as técnicas de entrevista de seleção que aprendemos, sendo a maioria delas de autores americanos. Há diversas maneiras e técnicas de detectarmos as limitações e habilidades dos candidatos, não há necessidade de perguntarmos sobre os “defeitos e qualidades”. Deixemos esses termos para os eletrodomésticos, afinal pessoas não são objetos inanimados e sem vida, somos todos seres humanos.


segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Cinco pontos chave para o desenvolvimento profissional e pessoal



Publicado no portal Gazeta Libertária

O que segue abaixo, é uma tradução de uma transcrição de uma palestra sobre desenvolvimento profissional e pessoal ministrada por Jeff Deist*, presidente do Mises Institute, proferida na sexta-feira, 2 de setembro de 2022, em uma oficina estudantil na conferência do Instituto Ron Paul, no norte da Virgínia.

As observações que preparei hoje dizem respeito ao seu desenvolvimento pessoal e profissional, que, naturalmente, estão intimamente inter-relacionadas. Isto não deve ser confundido com “auto-ajuda”, um gênero um tanto quanto desonroso, cujos praticantes muitas vezes querem vender-lhe atalhos. Desenvolvimento significa exatamente isso: desenvolver suas habilidades, conhecimentos e interesses para avançar em direção a objetivos que, esperamos, se tornem mais claros à medida que você passa dos 20 e 30 anos. Lembre-se, você pode ter uma vida profissional mais longa do que seus pais e avós, assim você tem mais tempo e mais escolhas, talvez, do que eles tiveram. Mas é importante não desperdiçar seus melhores anos de aprendizagem, quando os neurônios de seu cérebro disparam no seu melhor! Mesmo na sua idade, ainda na faculdade, não é muito cedo para se verem como profissionais e para levarem seu trabalho a sério.

Aqui estão cinco sugestões que você pode implementar imediatamente para se destacar de seus colegas.

1 – Filtrar

O acesso à informação é hoje praticamente gratuito. Seu trabalho é filtrar todo o ruído branco e reconhecer o que é importante.

A oferta de informação na era digital supera a demanda e torna a informação muito, muito barata. Em um mundo digital, a informação é instantânea e muitas vezes livre de qualquer custo financeiro. Isso é especialmente verdadeiro nas mídias sociais, onde informações e opiniões estão prontamente disponíveis, mas conhecimento e discernimento estão quase ausentes. Quando algo é barato e fácil, naturalmente tendemos a reduzir sua importância.

Isso nem sempre foi verdade. De fato, as gerações anteriores tiveram que trabalhar duro para ter acesso à informação, que estava em grande parte contida em livros físicos que podiam não estar facilmente disponíveis ou acessíveis. Meu bisavô, que viveu conosco muito brevemente, nasceu no final de 1800. Como muitos de sua geração, ele não concluiu o ensino médio e, portanto, estava apenas “qualificado” para o trabalho braçal. Então ele decidiu se matricular em um curso por correspondência, o tipo de coisa literalmente anunciada na contracapa das revistas. Ele provavelmente enviou dinheiro físico para um endereço listado, depois esperou algum tempo pelos materiais. Ele lia cada curso, fazia testes em casa e enviava os testes pelo correio para avaliação. Tudo isso levou alguns anos, mas no final ele tinha conhecimento suficiente e algum tipo de credencial para se tornar um eletricista de uma grande empresa. Esse emprego pagava o suficiente para pagar uma casa de classe média, que ele mesmo construiu e instalou.

A informação necessária para se tornar um eletricista era muito valiosa para ele – não era barata e nem estava disponível instantaneamente.

Mas mesmo nas décadas de 1980 e 1990 as coisas eram muito diferentes em relação a hoje. Sua livraria comum no shopping talvez tivesse alguns livros de Ayn Rand, e talvez Free to Choose, de Milton Friedman. Você podia encontrar The Affluent Society, de John Kenneth Galbraith, e algo de Henry Hazlitt, se tivesse sorte. Você certamente não teria encontrado nenhum Menger, Mises ou Rothbard. Isso também se aplicava à sua biblioteca pública local, ou mesmo a uma biblioteca universitária.

2 – Leitura

A coisa mais simples que você pode fazer para se distinguir é se tornar um leitor voraz. Isso é simples, mas não é fácil.

Na verdade, você deve se esforçar para ler um livro a cada semana. Isso pode ser difícil se você for um estudante em tempo integral e, é claro, provavelmente não conseguiria ler um tratado de 900 páginas como Ação Humana tão rapidamente. Mas se você criar o hábito agora como um jovem, quando a velocidade e a retenção de leitura são maiores, você colherá enormes benefícios. Para livros mais longos, defina uma contagem de páginas alvo a cada dia. Quando a vida intervir, reponha o dia ou os dias perdidos no fim de semana.

Charlie Munger, o sócio bilionário de Warren Buffett na Berkshire Hathaway, descreveu o dia de seu amigo como tendo 80% de leitura – muitas vezes quinhentas páginas. Antes de investir o dinheiro de seu cliente em uma empresa, Buffett coloca as probabilidades a seu favor lendo tudo o que puder sobre a própria empresa e o setor em geral. Ele nem sempre está certo, mas está sempre informado. Podemos imaginá-lo voando em jatos particulares, rodando e negociando, quando na verdade ele está mais provavelmente sentado em sua mesa, lendo tudo, desde os grandes livros até análise técnica.

O hábito de leitura do Sr. Buffett fornece uma lição poderosa para todos nós. Mas a maioria dos americanos não lê quase nada. Um amigo que leciona em uma grande universidade pública acha que menos da metade de seus calouros já leu um único livro na íntegra! Assim, enquanto nossos bisavós viam o acesso a livros (e educação) como um luxo, a maioria das pessoas hoje não consegue tirar proveito de nossas ferramentas modernas. Essa é uma oportunidade para você se destacar.

Uma advertência em relação aos livros que você lê: como Charles Haywood aconselha, dê forte prioridade aos livros escritos há mais de cem anos e tenha cuidado com os livros escritos nos últimos cinquenta anos. Livros mais antigos passaram no teste de mercado; ainda lemos Sócrates e Shakespeare por uma razão. Se o livro ou o autor ainda ressoam depois de um século, seu tempo provavelmente foi bem gasto. E quase todos os novos livros, independentemente do gênero, têm um análogo anterior e melhor. Isso pode não se aplicar a desenvolvimentos recentes em ciência e tecnologia, mas ao ler filosofia, história, humanidades e ciências sociais, você deve procurar fontes originais neste momento de sua educação.

3 – Aprenda continuamente

Infelizmente, você não pode confiar nos pais ou nos currículos do ensino médio e da faculdade para lhe ensinar o básico que meu bisavô mencionado acima aprendeu em sua adolescência. Por básico, quero dizer uma educação básica em artes liberais, com história, filosofia, epistemologia, clássicos, retórica, línguas, artes e literatura suficientes para qualificá-lo como uma pessoa educada. Você deve aprender a maior parte disso por conta própria, ao longo de sua vida. Este é um compromisso assustador, mas que vale a pena. E valerá a pena em termos de carreira, especialmente em uma época em que o ativo financeiro mais valioso que você pode possuir pode ser sua capacidade de obter renda (elevada) com seu conhecimento.

O empreendedor e empresário Robert Luddy ensina seus funcionários sobre o conceito japonês de kaizen, ou melhoria contínua. Os princípios fundamentais do kaizen relacionam-se principalmente aos negócios, mas o conceito mais amplo pode ser aplicado aos seus objetivos de longo prazo para a vida. Mesmo pequenos avanços em sua aprendizagem ao longo da vida podem se acumular dramaticamente ao longo do tempo, especialmente se você criar o hábito de aprender agora. Lembre-se, ninguém está vindo para salvá-lo ou mostrar-lhe o caminho. Quando se trata de educação, você está em grande parte por conta própria.

4 – Evite argumentos

Você deve estar muito ocupado desenvolvendo seus conhecimentos e habilidades para discutir com as pessoas. Isso é especialmente verdadeiro quando as ditas “pessoas” são estranhos online ou exibem má-fé.

O famoso Dale Carnegie (por favor, não o chame de escritor de autoajuda!), mais conhecido por Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas, insistiu que ninguém ganha uma discussão. Na verdade, o “vencedor” perdeu tempo e queimou capital social, enquanto a parte oposta foi contrariada ou silenciosamente ferida apesar da bravata externa. Em uma era de sobrecarga de informações, quando pontos de vista e argumentos opostos são fáceis de pesquisar, a maioria das pessoas perversamente se empenha ainda mais. O conselheiro de campanha de Trump, Steve Bannon, chama isso de “América pós-persuasão”, um sintoma de muitos ataques estridentes e pouca persuasão de corações e mentes. Os argumentos tornaram-se tão baratos quanto a informação. Você pode apreciá-los da mesma forma que gosta de junk food ou de um filme sem sentido, mas não crie o hábito de desperdiçar seu tempo com aqueles que estão além da persuasão.

Você está muito ocupado para isso, ou deveria estar. Lembre-se desta advertência do poema satírico Hudibras do século XVII:

“Aquele que submete contra a sua Vontade, Ainda é de opinião própria; A qual ele pode aderir, mas renegar, Por razões para ele mesmo conhecidas.“

5 – Promova pessoas, não apenas ideias

Finalmente, à medida que você se desenvolve e melhora, lembre-se de que os relacionamentos determinarão seu sucesso e felicidade mais do que as ideias.

Gostamos de pensar que as ideias comandam o mundo, ou que a ausência de ideias (“ad hoc–ismo”) o arruína. Mas deixando de lado a questão de saber se a própria ideologia pode se tornar uma camisa de força, as ideias não têm sentido sem pessoas de carne e osso para animá-las. Não vivemos em uma sociedade de Robinson Crusoé. Examine a vida de qualquer pessoa idosa bem-sucedida e você descobrirá uma rede profunda de relacionamentos e conexões, sejam comerciais ou pessoais. E é claro que isso é especialmente verdade na academia. A maioria das pessoas não nasce rica e conectada, e se preocupa que tudo dependa de “quem você conhece”. Mas você pode construir redes e aplicar seus conhecimentos e habilidades ao mundo real dos humanos corpóreos, entendendo sua natureza (principalmente) cooperativa. Lembre-se, isso é uma boa praxiologia: Mises considerou o título alternativo Cooperação Social para sua obra Ação Humana.

Considere a sociologia da escola austríaca de economia, um aquário relativamente pequeno, mas repleto de intrigas, conflitos e pontos de virada. E se Böhm-Bawerk não tivesse ativamente decidido construir um aparato intelectual a partir dos primeiros trabalhos de Menger? E se a Segunda Guerra Mundial nunca tivesse acontecido e Mises tivesse ficado em Viena? E se a conferência de South Royalton em 1974 não tivesse ressuscitado o movimento? E se Henry Hazlitt e Leonard Reed não tivessem dado apoio a Mises na América? A lição aqui é que as relações interpessoais e os eventos entre grandes pensadores muitas vezes têm tanto impacto quanto seu próprio trabalho.

Faça amigos e seja um amigo ao longo do caminho. Lealdade e gratidão são muito importantes e muitas vezes negligenciadas em nossa sociedade gananciosa. As pessoas gostam de seguir pessoas, não abstrações. Portanto, faça o possível para ser uma pessoa boa e séria, capaz de promover pessoas e ideias.

Seu maior patrimônio é o tempo, que, como jovens, parece se estender à sua frente. Mas passa rápido. Eu encorajo todos vocês a considerar essas cinco chaves para aproveitar ao máximo.

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* Artigo escrito por Jeff Deist, publicado no Mises.Org, traduzido e adaptado por Rodrigo D Silva.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Radiância motivacional no ambiente de trabalho


Por Ryder Carroll


"Pense em um colega nocivo com quem já trabalhou. Embora você possa estar muito satisfeito com o seu emprego, como se sente quando alguém fala mal da empresa, reclama do trabalho ou manipula pessoas para conseguir o que quer? Isso dá um gosto amargo na boca, que demora a sair. Sem se dar conta, você passar a negatividade para seu cônjuge durante o jantar – e até mesmo para os colegas dele no dia seguinte, segundo um estudo.

Como uma pedrinha jogada em um lago, nossas ações reverberam no mundo à nossa volta. Cada ondulação influencia aquilo que encontra. Quando você segura a porta para alguém, por exemplo, pode inspirar nessa pessoa a disposição de fazer o mesmo por quem vem em seguida ou praticar outra gentileza. Da mesma forma, quando grita com alguém, o cônjuge, filho ou um amigo dele fica sujeito ao efeito da propagação de sua ação. Gosto de me referir à nossa capacidade de influenciar o mundo à nossa volta como “radiância”.

A natureza do que irradiamos costuma ser o reflexo do que está acontecendo dentro de nós. É por isso que cultivar o autoconhecimento, longe de ser algo egoísta, tem importância vital. Se não assumirmos (ou relutarmos em assumir) a responsabilidade por nossas qualidades inferiores, como negatividade ou raiva, acabamos por passá-las adiante. O peso de suas palavras ou ações começa a dar forma ao mundo ao seu redor e deixa-lo mais próximo de seu mundo interior. Sua falta de entusiasmo por um projeto suga a animação do restante da equipe. Seu mau humor volta para você no silêncio de seu companheiro durante o jantar.

Não estou sugerindo que você se force a ser tão alegre quanto um personagem da Disney, soltando arco-íris de perpétuo otimismo pelo nariz. Porém temos obrigação de encarar nossas fraquezas e reforçar nossos pontos fortes, porque não estamos sozinhos. Cultivar nosso potencial nos torna mais preciosos a nós mesmos e aos outros, principalmente aqueles que estão mais próximos de nós.

Ainda que não possa controlar as pessoas, você influencia aqueles com quem tem contato. E eles também podem levar essa influência adiante. Seu conhecimento pode ensinar os outros. Seth Godin escrever: “Ou você é a pessoa que cria energia ou aquela que a destrói”.

Melhorar a si mesmo leva à melhoria dos outros e do mundo, se levarmos aquele efeito de propagação até seu potencial infinito e o multiplicarmos por cada alma motivada. Se não quer melhorar por si mesmo, faça isso pelos outros. Se seu objetivo na vida é ser útil o outros, pode começar sendo útil a si mesmo.”

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Excerto extraído do livro, "O Método Bullet Journal", de Ryder Carroll, editora Fontanar - São Paulo- 2018

 

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Desoneração, reoneração, desreoneração e já nem sabemos mais o que




As Relações do Trabalho começaram o ano muito mal, pois este artigo confirma praticamente o meu artigo anterior no qual escrevi que 2023 foi o pior ano dos últimos cinquenta anos no setor trabalhista. No dia 29 de dezembro já no apagar das luzes foi publicada no Diário Oficial da União a MP nº 1.202/2023 (mais conhecida como MP da maldade tributária) que trata do retorno da reoneração da folha de pagamento. Um presente de natal tardio, um presente de grego como diz o dito popular, daqueles que não dá nem entusiasmo de abrir o pacote em razão de seu extremo mau gosto.

Lembremos que o Congresso Nacional já havia derrubado o veto à desoneração da folha de pagamento meio que em cima da hora. Entretanto o ministro da fazenda nos reservava uma (he he he), sinistra surpresinha que por tabela é uma bofetada de mão aberta na cara de cada congressista que votou a favor da continuidade da desoneração da folha de pagamento.

A MP 1202/23 revoga os benefícios fiscais de que tratam o art. 4º da Lei nº 14.148, de 3 de maio de 2021, e os art. 7º a art. 10 da Lei nº 12.546, de 14 de dezembro de 2011. Além disso, as empresas voltarão a pagar tributos gradualmente a partir do mês de Abril de 2024, ou seja, recolhimento da Contribuição Social sobre o lucro líquido (CSLL), PIS/PASEP/ e Cofins.

De acordo com diversos juristas que foram consultados, a MP 1.202/23 é inconstitucional, viola direitos já adquiridos e constituídos e desrespeita decisões judiciais transitadas em julgado. Lembrando que o STF através da ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) nº 2.213 decidiu sobre a possibilidade de se questionar judicialmente a urgência ou relevância de Medidas Provisórias que tratam de matéria tributária In verbis.

A sanha do governo pelo aumento na arrecadação de receita e carga tributária é infinita, ele atira para todos os lados e o setor trabalhista (composto por empregadores e empregados), sempre o mais visado, é o mais atingido de maneira brutal. Outras alternativas como, por exemplo, o corte de despesas e de gastos públicos nem pensar, óbvio, pois a sanha para o aumento da receita é justamente para suprir as mordomias dos gastos públicos.

Com isso, os empregadores foram jogados num limbo, num ponto cego sem saber o que seguir: a decisão do Congresso Nacional ou a Medida Provisória 1.202/23. A consequência disso é o caos tributário e pior, instabilidade e insegurança jurídica. Um país sui generis no qual uma lei vale apenas por algumas horas, acorda-se com ela e ao dormir ela já foi revogada. Se a MP 1.202/2023 não for neutralizada teremos desemprego em massa em escala inimaginável.

Portanto, caso o Congresso Nacional consiga neutralizar essa MP da maldade tributária, ficará valendo o que já estava valendo e não valeu mais, voltou a valer, só que não e que valerá amanhã talvez sim ou talvez não. Entenderam? Eu também não!


Obs: Este blog entra de férias por 30 dias. Retornaremos em Fevereiro/2024

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Medidas persecutórias do governo fazem de 2023 o pior ano no setor trabalhista nos últimos 50 anos


O ano de 2023 foi um dos anos mais sombrios para o setor trabalhista ficando atrás somente do ano de 1943 quando uma arma letal denominada Consolidação das Leis do Trabalho-CLT foi criada pelo pior e mais brutal ditador que o Brasil já teve desde que foi fundado, e do ano de 1988 quando os direitos trabalhistas foram constitucionalizados resultando num golpe fatal no setor trabalhista que até hoje produz seus efeitos letais engessando todas as portas da empregabilidade.

Desde o início desse governo a temporada de caça aos empregadores e trabalhadores autônomos ou avulsos foi decretada. A perseguição às plataformas de aplicativos, sobretudo a Uber (ainda que o STF já tenha se pronunciado que não há vínculo empregatício entre o motorista e a plataforma) e os motoboys de todo tipo de entrega. Projetos de criminalização de cambistas, dos ônibus “clandestinos”; a perseguição aos influencers digitais que sobrou até mesmo para as meninas do onlyfans.

A Lei nº 14.611 sancionada em Julho deste ano é um capítulo à parte, pois  trata-se de um show pirotécnico de redundâncias. Essa lei dispõe (de novo!) sobre a igualdade salarial entre homens e mulheres. Ora, já existem dispositivos legais que dispõem sobre o tema, tais como a própria CLT em seu artigo 461 e a Lei 9.029/95 que trata sobre práticas discriminatórias nas relações de trabalho. Na verdade, a Lei nº 14.611 nada acrescentou de positivo às mulheres a não ser uma série de medidas rigorosas tais como relatórios infinitos que o empregador terá que apresentar sistematicamente prestando satisfações sobre a remuneração das mulheres que integram o quadro de funcionários sob pena de severa fiscalização. Uma lei que é elaborada para criminalizar por presunção o empregador não gera empregos e assim sendo não haverá postos de trabalho nem para homens nem para mulheres.

Em setembro o STF aprovou a volta da sinistra contribuição assistencial que passou a ser obrigatória ainda que o trabalhador não seja sindicalizado. Com exceção dos empregados que se manifestarem oposição ao desconto “a tempo e a modo perante o sindicato da categoria”. Notem bem que a oposição ao desconto não será perante a empresa mas diretamente junto ao sindicato. Até o momento ainda não ficou definido como essa oposição ao desconto se dará na prática.

Tivemos o veto à prorrogação da desoneração da folha de pagamento que felizmente foi derrubado pelo Congresso aos 49 do segundo tempo já no apagar das luzes. Como o setor trabalhista pode conviver com uma insegurança jurídica dessas?

Pesquisa publicada no portal g1 apontou um aumento considerável de empregos formais conforme dados do IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, do Pnad – Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios e do CAGED- Cadastro Geral de Empregados e Desempregados. Então vamos lá, foram 685 mil empregos criados em que setor mesmo? No serviço público, ora mas como não? (no serviço público!!). Já na iniciativa privada teremos que somar o setor de comunicação, atividades financeiras, imobiliárias e administrativas para juntas perfazem 617 mil empregos. Bem, em 2023 o índice de recuperação judicial teve um aumento de 52%! Um péssimo cenário se comprado aos anos anteriores.

E tem mais, são centenas de projetos de leis no setor trabalhista tramitando no congresso nas comissões de assuntos sociais aguardando encaminhamento e aprovação. Só para citar um deles,  há um PL que trata da redução da jornada de trabalho para 4 dias na semana sem redução salarial. Cem por cento desses projetos são elaborados por “especialistas” de plantão que passam ao largo do setor trabalhista, nunca colocaram os pés num departamento de Recursos Humanos e nem sonham como funciona o setor de gestão de pessoas. No entanto, sejamos justos, são sim especialistas em encontrar uma maneira ardilosa de arrecadar muito mais impostos e criminalizar o empregador com severas fiscalizações que geram multas brutais para o abastecimento dos cofres públicos.

O setor trabalhista está estrangulado de legislação, não adianta criar mais leis, não cabem mais, pois na prática são impossíveis de serem cumpridas. E não sendo cumpridas as empresas serão autuadas e multadas e sendo multadas as demissões são líquidas e certas e não haverá criação de postos de trabalho e sim empresas com atividades encerradas. Portanto, a sanha do governo por mais impostos, encargos e contribuições é um tiro no próprio pé, pois quanto mais aumentar as demissões e o desemprego em razão de medidas que visam penalizar empregadores, segue-se de maneira inevitável que a arrecadação diminuirá substancialmente no reino do Estadostão.

Falar bem ou ter boa oratória é “combustível” para alavancar carreira?

"Fazemos bem aquilo que gostamos de fazer" (Napoleon Hill) Dia desses tive a oportunidade de assistir um curioso podcast no qual d...